Um pouco do histórico da Educação Ambiental...

 





A Educação Ambiental (EA) apesar de ser historicamente recente, possuindo pouco menos de 50 anos, vem apresentando-se como um terreno fértil com uma grande variedade de iniciativas e procedimentos. Este cenário deve-se a apropriação dos conhecimentos pedagógicos que se encontram intimamente conectados aos seus propósitos, permitindo sua aplicabilidade nos mais distintos contextos. Logo, torna-se comum a percepção da existência de “Educações Ambientais”, ou seja, a crença na concretização de uma grande variedade de ações que seguem os mesmos objetivos de levar até a sociedade todos os debates e reflexões relativos às questões do meio ambiente, porém, que se diferem com a presença de características muito específicas. 

Sendo assim, torna-se possível dentro do universo da EA, apresentar subdivisões pautadas em diferentes aspectos, incluindo o momento histórico, a natureza da atividade ou a ideologia presente. Sorrentino (1995) desenvolveu estudos específicos na área, com o intuito de analisar práticas expressivas e classificá-las. O mais significativo de seu trabalho foi a comprovação de que todas elas procuram, de alguma forma, contribuir para a conservação da biodiversidade, para a autorrealização individual e comunitária e para a autogestão política e econômica. 

Entre as muitas formas de classificar as práticas de EA, a mais comum e utilizada refere-se a dois grandes grupos: Práticas Conservadoras e Práticas Emancipatórias, também denominadas de Críticas. Lima (2002) explica que toda prática educacional pode apresentar-se como conservadora quando reproduz e propõe ideologias de classes dominantes, assumindo o papel de conservação e manutenção da ordem social, enquanto as que se contrapõe, demonstram comprometimento pela modificação cultural, política e ética, desenvolvendo e valorizando as potencialidades do ser humano, sendo denominadas emancipatórias. 

Segundo Loureiro (2004), a concepção conservadora apresenta como foco a adequação do sujeito ao sistema, limitando-se às mudanças comportamentais sem a preocupação com a compreensão da dinâmica existencial. Já a vertente emancipatória, visa a transformação integral do sujeito a partir da problematização da realidade. O quadro 2 possibilita um comparativo entre as características existentes em cada uma das concepções. Ribeiro (2017) ressalta que essas concepções “divergem em posturas, objetivos, interesses e ideologias”.

Silva (2012), ao comparar as duas abordagens de educação, afirma que durante muitos anos a vertente conservadora veio distorcendo o real papel da ciência, mantendo a sociedade arraigada aos pensamentos ideológicos de classes dominantes dentro do modelo capitalista. Teixeira (2003) concorda ao afirmar que a concepção emancipatória pode ser vista como a “chave” capaz de reduzir o pensamento capitalista propiciando a formação de cidadãos mais reflexivos e conscientes. Já, Gomes (2014), é categórico ao afirmar que a prática Emancipatória pode amenizar o impacto socioambiental de um desenvolvimento voltado somente para o econômico em um futuro próximo.

Portanto, existem grupos distintos de EA mas se dará continuidade às reflexões e discussões segundo a vertente Emancipatória, uma vez que conhecê-la de forma mais profunda é um dos objetivos propostos neste trabalho. 

A consolidação da perspectiva emancipatória na EA dentro de instituições de ensino, se faz a partir da efetivação de metodologias que visam atribuir o protagonismo do processo de construção do conhecimento para os estudantes. Percebe-se um leque vasto de possibilidades para que sua efetivação seja de fato eficiente. No entanto, Loureiro (2002) ressalta a importância da problematização da realidade neste processo e identifica algumas etapas que considera fundamentais, sendo elas: (1) identificação e definição do conflito existente, (2) compreensão do que é o conflito a partir do entendimento dos envolvidos, (3) construção de processos que resultem em ideias e alternativas, (4) avaliação coletiva das propostas anteriormente discutidas, (5) negociação entre os envolvidos, (6) efetivação das ações planejadas. 

1. Identificação e definição do conflito existente – Corresponde a primeira fase destinada ao levantamento do contexto sociocultural vivenciado pelo indivíduo. É a etapa responsável por elucidar a forma com que as interações entre indivíduo e meio ambiente ocorrem. 

2. Compreensão do que é o conflito a partir do entendimento dos envolvidos – Trata-se da análise dos problemas e conflitos a partir da busca de entendimento de todas as dimensões envolvidas. Corresponde ao mapeamento da situação elucidando as conexões existentes. 

3. Construção de processos que resultem em ideias e alternativas – Refere-se ao processo reflexivo em que se busca pensar sobre possíveis formas de resolução ou amenizar os problemas. 

4. Avaliação coletiva das propostas anteriormente discutidas – Corresponde ao momento de apresentar as sugestões de intervenções para um grupo maior, oportunizando diversas ponderações e reflexões. 

5. Negociação entre os envolvidos – Trata-se do momento inicial da concretização das intervenções, o qual as ações realizadas buscam garantir a possibilidade de efetivação. Normalmente, envolve o estabelecimento de diálogos na busca pela sensibilização e conscientização da importância do processo.

6. Efetivação das ações planejadas – É a etapa final destinada a concretização das ações, visa a eliminação ou a redução do problema anteriormente identificado. 

A efetivação de uma prática de EA focada na transformação social que respeita o ser humano nas suas múltiplas dimensões é denominada de Emancipatória ou Crítica, sendo desenvolvida, necessariamente, a partir de escolhas metodológicas apropriadas e condizentes aos princípios ideológicos da educação dialogada.

Conclusões

Mediante a pesquisa realizada percebe-se que o termo EA trata-se de uma expressão relativamente recente e que objetivou interligar dois campos do conhecimento distintos, sendo um a educação e o outro o ambiental. Seu surgimento esteve relacionado a inúmeros movimentos sociais de caráter ecológico que por meio da luta e resistência veio difundindo a ideia de preservação da vida humana, opondo-se à cultura da produtividade e do consumismo exacerbado que compõem a ideologia do sistema capitalista. Dessa forma, a EA pode ser compreendida como um fenômeno advindo do reflexo das mazelas sociais em relação a inadequada forma de interação entre homem e recursos ambientais. 

Nota-se que a EA, apesar de manter-se firme ao propósito de concretização de uma postura sustentável, vem adquirindo formas variadas ao longo da história, demonstrando-se flexível e inacabada, de forma que alguns estudiosos chegam a tratá-la no plural, deixando clara a ideia de multiplicidade e pluralidade. No entanto, existe uma tendência em classificá-la em dois grandes grupos, sendo um preso às ideologias das classes sociais dominantes, considerada como conservadora e o outro, que preza pela formação e o empoderamento de cidadãos crítico e sensíveis às questões ambientais, denominado de EA Crítica Emancipatória. 

A EA Crítica Emancipatória ganha destaque mediante o contexto planetário atual que não mais se satisfaz com ações que visam os processos de conscientização, pois apresenta demandas concretas, estando necessariamente associadas à ideia de mobilização social por meio do empoderamento das questões ambientais pelos indivíduos. Para isso, mantém o caráter multi, inter e transdisciplinar, sendo necessariamente sistematizada e planejada conforme etapas fundamentais, sendo: identificação e definição do conflito existente; compreensão do conflito; construção de processos que resultem em ideias e alternativas; avaliação coletiva das propostas; negociação entre os envolvidos; e efetivação das ações planejadas. 

Portanto, a EA possui um histórico que não pode ser desconsiderado, mas que deve servir como base sólida para que novas práticas e tendências continuem sendo idealizadas e concretizadas, garantindo um processo de formação de cidadãos planetários, conforme proposto por Boff (1999).






Bibliografia

Esse texto foi retirado integralmente do site: https://revistaea.org/artigo.php?idartigo=3994

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