A Pesca Artesanal no Litoral Norte Paulista: Exposição Itinerante em escolas de Caraguatatuba e São Sebastião.

INTRODUÇÃO

A pesca artesanal é responsável por 58% da produção de pescado no Brasil (BEGOSSI, 2008). No litoral norte do Estado de São Paulo, esta atividade vem sendo praticada pelos habitantes nativos, denominados caiçaras, desde o século XVIII (DIEGUES, 2005). Recentemente, vários fatores, como a especulação imobiliária e o crescimento do turismo, têm sido responsáveis pela desarticulação cultural e pela expulsão dessas populações caiçaras (SÃO PAULO, 2005). Em pesquisas realizadas de 2004 a 2006, em comunidades pesqueiras do litoral norte paulista, verificou-se que alunos e moradores destas comunidades, com população de origem caiçara e com grande número de pescadores, não conheciam detalhadamente a história e as técnicas utilizadas na pesca artesanal, nem a valorizavam como atividade econômica ou como meio de reprodução da história e cultura caiçara (SOUZA; BEGOSSI, 2007). A realização desta exposição itinerante teve como objetivo divulgar os aspectos econômicos, históricos, culturais e ecológicos da pesca artesanal, assim como a sua diversidade de estratégias, artefatos de pesca e espécies-alvo e sua importância para o desenvolvimento econômico e para a conservação da biodiversidade regional.

O projeto foi realizado em sete escolas de Caraguatatuba e São Sebastião, por duas professoras do IFSP – Caraguatatuba e quatro participantes do Instituto Terra e Mar e da Associação Caiçara Juqueriquerê. A seleção das escolas participantes baseou-se na localização próxima aos bairros com famílias de pescadores artesanais. Assim, poderíamos tentar resgatar nos alunos o interesse por este assunto e promover a valorização desta atividade dentro da sua comunidade. Em cada comunidade também foi contactado um pescador antigo e um artesão para ensinar sua atividade para os alunos. As atividades da exposição foram: Apresentação de painéis e apetrechos da pesca artesanal. 
 Exposição fotográfica e palestras sobre comunidades pesqueiras, artes de pesca, embarcações utilizadas, espécies-alvo e espécies acidentalmente capturadas pela pesca. Mostra da cultura local: depoimentos de pescadores antigos (roda de conversa), exposição de plantas medicinais (“quintal caiçara”), artesanato local, varal de lendas regionais. Jogo interativo com os visitantes, abordando temas relacionados à pesca artesanal. Veiculação de vídeo sobre a pesca artesanal e a cultura caiçara. Oficinas de artesanato com artesãos locais: cerâmica e artesanato com conchas e escamas. Oficina de reciclagem de papel. Foram aplicados questionários de avaliação da exposição para alguns alunos e professores de todas as escolas. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Participaram da exposição 1549 alunos dos Ensinos Infantil, Fundamental I - II e Médio, na faixa etária dos quatro aos 18 anos, com uma média de 380 alunos por escola (Quadro 1).

Seis pescadores convidados conduziram a roda de conversa com os alunos. Os representantes das Colônias de Pescadores locais explicaram seu papel institucional e as dificuldades enfrentadas pelos pescadores artesanais. Três oficinas de artesanato com conchas e escamas e uma oficina de artesanato em argila foram ministradas por quatro artesãos locais, e onze oficinas de papel reciclado foram conduzidas pela equipe do projeto. Estas oficinas foram as atividades preferidas dos alunos talvez por proporcionarem uma maior interação entre os participantes (Fig. 1). No IFSP, a exposição contou com a participação de uma especialista em plantas medicinais que compõe um grupo de estudos sobre este tema.
Os resultados dos questionários sobre o envolvimento dos alunos e suas famílias, com as atividades apresentadas na exposição (pesca, artesanato, reciclagem e uso de plantas medicinais), apontam uma heterogeneidade no perfil das comunidades, com o predomínio de diferentes atividades em cada local (Fig. 2). Esta heterogeneidade pode estar refletindo o interesse em diferentes atividades econômicas, bem como mudanças culturais em cada comunidade.


Segundo a avaliação de 27 professores das escolas participantes, 78% deles deram nota máxima (10) à exposição e 100% consideraram os temas abordados adequados às faixas etárias dos alunos, confirmando que o objetivo principal da exposição foi atingido.

CONCLUSÃO 
A exposição foi um evento interativo, com a troca de experiências culturais, científicas e artísticas. Foi realizada durante seis meses, em sete escolas públicas de Caraguatatuba e São Sebastião, com a participação ativa dos alunos, professores e pescadores das respectivas comunidades. Possibilitou, também, por meio dos questionários de avaliação, estabelecer um perfil quanto às atividades relacionadas à pesca e cultura caiçara, exercidas pelos familiares dos estudantes em cada bairro visitado. A grande receptividade dos alunos às atividades apresentadas na exposição indica a necessidade da realização de mais eventos com caráter de divulgação e troca de informações sobre a evolução histórica, econômica e cultural desta região, que podem contribuir para uma formação mais contextualizada dos alunos, assim como promover a valorização e o resgate da sua cultura.  

REFERÊNCIAS 

BEGOSI, A. Local knowledge and training towards management. Environmental Development and Sustainability, 2008. (DOI 10.1007/s10668-008-9150-7). 

DIEGUES, A. C. Esboço de história ecológica e social caiçara. In: A. C. Diegues (Org.). Enciclopédia Caiçara. São Paulo: Editora Hucitec, NUPAUB,EC/USP, 2005. p.273-319. v.4: História e Memória Caiçara. 

SÃO PAULO. Zoneamento Ecológico-Econômico - Litoral Norte São Paulo. São Paulo: SMA/CPLEA, 2005. 56p. 

SOUZA, S. P; BEGOSSI, A. Whales, dolphins or fish? The Ethnotaxonomy of cetaceans in São Sebastião, Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicin, v. 3, p.9, 2007. (DOI:101186/1746-4269-3-9). 

Fotos do acervo do Instituto Terra & Mar.
Texto retirado do artigo: 
Link: https://essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/ENNUPAS/article/view/1608/794
 

Comentários

  1. Amei fazer parte desta exposição aprendi muito! Obrigada Shirley pela oportunidade!

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